Ranking: Conheça as apostas dos fundos multimercados e long short que mais renderam em 2022

Por Júlia Lewgoy, Valor Investe — São Paulo
Apesar de os fundos multimercados registrarem resgate recorde em 2022, com a concorrente renda fixa oferecendo altas taxas de juros, alguns investidores que aguentaram mais as oscilações conseguiram rendimentos ainda maiores nesses produtos
Apesar de os fundos multimercados terem registrado resgate recorde de R$ 87,6 bilhões em 2022, com a concorrente renda fixa oferecendo altas taxas de juros, alguns investidores que aguentaram mais as oscilações conseguiram rendimentos ainda maiores que os 13,75% ao ano da Selic aplicando nesses produtos. Os retornos atingiram ao redor de 40% no ano em casas como Exploritas e Asa, de acordo com um levantamento feito por Marcelo d´Agosto, consultor financeiro e blogueiro do Valor Investe, com base em dados da plataforma Morningstar.
Most profitable hedge funds in 2022
Fund Return in 2022
(in %)
Return in 2021
(in %)
Return in 2020
(in %)
Risk
Exploritas Alpha América Latina 42,87 5,69 -27,14 18,82
Asa Hedge 39,40 3,92 12,94 10,39
ESH Theta 37,20 104,20 17,02 15,44
Mar Absoluto 34,66 -1,56 15,79 10,02
SPX Raptor 31,88 20,75 14,46 22,68
Kapitalo Alpha Global 31,43 8,88 3,39 3,93
Capstone Macro 30,84 16,48 9,05
Vinland Macro Plus 30,62 11,79 16,91 5,71
Bahia AM Mutá 27,23 0,13 -0,89 9,83
XP Macro Plus 27,20 8,84 5,86 11,86
Fonte: Estudo de Marcelo D´Agosto, consultor financeiro e blogueiro do Valor Investe, com base em dados da Morningstar até 30 de dezembro*

É um retorno bem acima tanto do CDI, indicador de referência para avaliar investimentos no Brasil de forma geral, que acumulou alta de 12,4% em 2022, como também ao Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), indicador de referência dos multimercados, que avançou 13,7% no ano. 

Os fundos multimercados podem comprar ações, commodities, juros e moedas, no Brasil e no exterior, e apostar em altas e baixas dos ativos por meio de arriscadas operações. Assim, independem da direção dos mercados para andar bem.

Até os melhores produtos podem mostrar altas e baixas acentuadas, com os gráficos de cotas lembrando as montanhas-russas. Por isso, são aconselhados apenas para investidores com objetivos de longo prazo e com perfil de moderado a arrojado.

Além disso, apenas alguns entre centenas de gestores conseguem dar retornos altos e consistentes ao longo do tempo. É necessário, portanto, conhecer o histórico dos fundos e dos profissionais para escolhê-los.

O que foi diferencial para os TOP 3 de 2022?

Boa parte dos fundos multimercados que chamaram a atenção em 2022 apostou na alta de juros em economias grandes para combater a inflação e na consequente baixa das bolsas dos Estados Unidos. Agora, eles buscam estratégias novas para continuar se destacando. Muitos estão concentrados em menos ativos do que no ano passado, fazendo apostas mais direcionais, porque o cenário está mais incerto. 

A gestora Exploritas, dona do fundo multimercado mais rentável do ano, o Exploritas Alpha América Latina, adotou diferentes estratégias ao longo do ano, como é característico desses produtos. A casa começou 2022 acertando com a aposta na alta dos juros nos Estados Unidos e do real. Em julho e agosto, aproveitou uma curta janela de oportunidade para comprar ações brasileiras, especialmente da Sabesp.
Após a eleição, a gestora ganhou dinheiro se desfazendo de bolsa no Brasil e apostando na baixa do S&P 500, indicador de referência de ações americanas. “Achamos que a eleição de Lula causaria um desastre fiscal e seria muito ruim para a bolsa no Brasil. Assim, decidimos ficar sem ações brasileiras’, afirma Daniel Delabio, gestor da Exploritas. “Não consigo acreditar em Lula gastando menos dinheiro do governo do que deveria. O DNA dele é de gastador”, diz.

Na avaliação dele, o risco de comprar bolsa do Brasil aumentou desde então. Atualmente, boa parte do fundo está aplicada apenas em títulos corporativos do Brasil e da Argentina, especialmente de companhias de infraestrutura, para surfar nas altas taxas de juros.

A gestora Asa Investments, dona do segundo melhor fundo multimercado do ano, o Asa Hedge, se deu bem em 2022 fazendo a aposta certeira em alta de juros e baixa das bolsas nos Estados Unidos. Agora, a casa está concentrada somente na aposta de recuo das bolsas americanas.

“Em geral, 2023 terá os mesmos problemas de 2022, mas não com o mesmo grau de sensacionalismo. Ainda vamos ter que navegar com inflação por mais tempo antes de ver esse problema resolvido”, afirma Filippe Santa Fé, gestor de juros do Asa Hedge.

Contudo, a expectativa é de desaceleração da atividade econômica neste ano, causada pela alta de juros para controlar os preços. “A combinação de inflação ainda alta com atividade econômica pior é particularmente nociva para as ações americanas, que ainda vão afundar mais. Atualmente, é mais importante a posição vendida em bolsa”, diz.

Já o cenário no Brasil está mais incerto do que nos Estados Unidos e ainda não dá para saber com clareza o que acontecerá com os juros, o que dificulta o trabalho dos gestores no país. “Este não vai ser um ano de dar muita bola para o Brasil, porque o quadro fiscal não está fácil de interpretar. As oportunidades no mercado externo estão mais claras”, afirma.

Alguns fundos multimercados também se destacaram com estratégias bem diferentes. É o caso do Esh Theta, da gestora Esh Capital, em terceiro lugar na lista. Apesar de ser um fundo multimercado, o produto compra apenas ações de companhias com bastante desconto, às quais boa parte do mercado não deseja se expor, como Gafisa, Alliar e Terra Santa, numa aposta normalmente ligada a um evento societário.

A casa faz o que chama de ativismo societário. “A partir do momento em que somos acionistas, temos o direito de nos aprofundar e reclamar se encontramos algo de errado na empresa. Fazemos um estudo muito profundo, analisando não apenas o que todo mundo olha, como os balanços, mas também a governança corporativa”, afirma Vladimir Timerman, gestor da Esh.

Fundos long short
Os fundos multimercados da classe long short, que compram uma ação e vendem outra ao mesmo tempo, alcançaram rendimentos abaixo dos multimercados em geral em 2022. Foram poucos os que conseguiram chamar a atenção, mas esses alcançaram rendimentos de até 35% no ano.
Fundos long short mais rentáveis em 2022
Fund Return in 2022
(in %)
Return in 2021
(in %)
Return in 2020
(in %)
Risk
Ibiuna L&S STLS 34,69 7,14 0,71 8,29
BTG Absoluto LS 27,97 -14,09 9,79 7,80
Navi Long Short 17,27 6,46 2,42 6,11
Sharp Long Short Feeder 2X 15,56 5,12 21,22 1,91
Solana Long And Short 15,34 9,51 5,94 4,89
Quantitas Maldivas Long Short 14,08 8,50 1,62 5,02
Claritas Long Short 13,63 4,14 -0,29 3,13
Bradesco Long and Short 13,62 1,23 3 3,66
Sharp Long Short 13,18 3,80 10,69 1,07
Safra Kepler Equity Hedge 12,93 -0,19 4,90 2,11
Fonte: Estudo de Marcelo D´Agosto, consultor financeiro e blogueiro do Valor Investe, com base em dados da Morningstar até 30 de setembro*

Nessa modalidade de produto, os gestores escolhem pares de papéis, que podem depender do mesmo cenário ou ser do mesmo setor, por exemplo. As ações compradas tendem a se comportar de forma parecida às vendidas, mas não igual. Os gestores esperam que os papéis comprados tenham desempenho relativo melhor do que os vendidos, para ganhar com essa diferença. De um jeito simplicado, em um cenário de alta, a aposta é que os papéis “comprados” subam mais que os “vendidos”, ou, em um mercado de baixa, que eles caiam menos.

 

Cada fundo long short tem uma estratégia bem diferente do outro. A gestora Ibiúna, criadora do fundo long short mais rentável de 2022, o Ibiuna L&S STLS, continua cautelosa e comprada em companhias de valor, aquelas empresas consolidadas, mais protegidas contra crises, mas que estão sendo negociadas com desconto. Na carteira, estão papéis como BB Seguridade, Auren e Sabesp, além de Assaí, Cielo e Gerdau.

A ideia é seguir com uma carteira defensiva para atravessar o cenário incerto à frente, especialmente por causa das dúvidas em relação às contas do governo brasileiro.

“Como era esperado, estamos vendo o governo mais focado no social e menos preocupado com o fiscal. A consequência desse posicionamento é crescimento econômico menor e inflação maior no médio prazo, como já vimos acontecer na história várias vezes”, afirma André Lion, sócio responsável pela área de ações da Ibiuna.

“Agora, precisamos de um plano de voo. Existem demandas sociais da população que têm que ser atendidas, mas o governo precisa explicar como vai fazer isso”, diz. Já entre as apostas de quedas, estão ações de companhias de varejo on-line e tecnologia. “Não é porque os preços dos papéis caíram que vão retornar ao nível anterior. Alguns recuaram para o patamar certo”, afirma.

A gestora do banco BTG, dona do segundo fundo long short mais rentável de 2022, o BTG Absoluto LS, também começou o ano com expectativa bastante negativa para os ativos de risco em geral, chegou a ficar mais otimista, mas agora está mais pessimista de novo em relação às bolsas do Brasil e dos Estados Unidos.

“Começamos 2023 enxergando muita incerteza no Brasil e nos Estados Unidos. Aqui, ainda precisamos saber se o governo vai gastar mais e como vai fazer frente a esse gasto. E, lá fora, ainda precisamos saber como será o efeito da alta de juros mais rápida desde a década de 1970 sobre a atividade econômica”, afirma Laercio Henrique, sócio responsável pela gestão dos fundos de renda variável e pela gestão do BTG Absoluto.

Enquanto isso, no Brasil, a casa está comprada em ações de companhias de energia e produtoras de petróleo, incluindo Petrobras, e vendida em papéis de empresas ligadas ao consumo, prejudicadas pelos juros altos. No exterior, está comprada em ações da China, beneficiadas pela reabertura do país após a política de covid zero, e vendida em bolsa europeia, prejudicadas pela alta de juros. 

*Os fundos das listas estão efetivamente disponíveis para os investidores em bancos e plataformas de investimentos e têm histórico de pelo menos 12 meses. Fundos espelhos, que espelham outros fundos de investimentos, foram excluídos dos rankings.

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